Diário Underground #1

Diário Underground #1

11 de abril de 2018 841 Por Yasmin Ramyrez

querido-diario

Passado e presente

Pra começo de conversa, acho importante me apresentar, já que vocês, possíveis leitores e eu, iremos nos encontrar outras tantas vezes, espero. Me chamo Paçoca Psicodélica, vulgo Yasmin Ramyrez, tenho 39 anos, ouço Rock desde a infância (que foi uma infância presbiteriana sim, mas com muito Beatles, Scorpions, Elvis, Creedence, Dire Strait, AC/DC… tudo aquilo que meu pai ouvia) e comecei a viver o underground de 1995 para 1996 nas buraqueiras da cidade de Duque de Caxias na Baixada Fluminense, RJ.

As histórias que irei contar aqui são as que vivi e que amigos viveram. São memórias mesmo, não ficção (embora nossas memórias sejam já um tipo de ficção, mas isso é outro papo. Uma vez o Chico Pateta me disse isso e eu fiquei puta, mas faz sentido. Nunca fiquem putos com algo cabeça que seu amigo diga e você não entenda). Ah, mas não significa que os textos serão meros relatos, estarão em ordem cronológica e muito menos em linguagem formal. Senão fica boring, né?

Vou escrever sobre o que rolou numa gig mês passado e na sequência, por exemplo, da vez quando tinha 17 anos, fumei um cigarro natural e disse que não tava sentindo nada mas quis deitar dentro do berço da bebê da casa do amigo e fiquei decepcionada por não terem deixado (sacanagem… tinha bichinhos de pelúcia tão fofinhos!). kkkk

Falando nisso, minha mente e minhas memórias funcionam nesse pique mesmo: passado e presente ali coladinhos. Com vocês é assim? Parece que tem uma semana que tudo aconteceu (ok, uma semana meio empoeirada, mas uma semana… kkkk) mas quando tu vai se situar tem 20 anos? Porque é como se se tivesse tudo logo ali: as festas no CIEP 201 próximo a FEUDUC; as doideiras com os amigos da Rosely colega de Ensino Médio lá no Parque Fluminense; os headbangers na barraca do Fino na festa de rua do Gramacho; o Clube 1 em Villar dos Teles; o Bar da Sônia em Mesquita; o Bar da Rosa em Deodoro; a rua Ceará na Praça da Bandeira (nesse caso tá mesmo porque vira e mexe eu vou lá com a banda e faço evento); a galera riponga do calçadão de Caxias e do Beco da Cirrose ao lado das Lojas Americanas; os botecos e amigos que não existem mais (Salve Gárgula!); os points muito importantes que construíram a história underground do Rio e da Baixada, aos quais frequentei apaixonadamente, fielmente, com uma ilusão e certa inocência que até hoje me acompanham.

Ah! Mas passou!!!

Passou e a gente fica entre contar as histórias e viver o agora. Façamos os dois. Embora seja um presente que tá mais parecendo presente de grego, na maior parte das vezes. Falando em points: a internet, a violência, a falta de grana, a falta de tesão são alguns dos fatores que nos deixam em casa. Centenas de bandas na cidade, centenas de álbuns, centenas de clipes, dezenas de eventos semanais: a gente não vai nem a 10% e a massa só vai pro Rock no RIR.

Cadê aquele povo que saia sexta, sábado e domingo? Duros? Cadê a gente que ia pra Hillo’s em Nova Iguaçu, numa terça-feira, pra pogar ouvindo Rage Against the Machine? Cansados?  Que pegava três busão, pulava roleta e ia pro Rato no Rio na zona oeste, pra Casa da Zorra na zona norte, pras festas na casa da Frank em Coelho da Rocha? Dando like em post coxinha e pedindo intervenção “milicar”? É a crise? É o Funk? É o tanque? É o POP? Em tempo: agro não é pop, agro é morte. O Rock morreu ou foi nóis?

Se dos cascudos sobram poucos (mulheres menos ainda, por questões sociais que nem todo mundo ainda ligou os pontos), me pergunto também cadê a molecada de HOJE. Cadê banda autoral de moleques de 16, 18 anos? Qua qua qua Que sonho seria!!! Tão em outra: Bozonaro, catuaba, desce e sobe, séries, games, realidade virtual… Eu não sei onde tá esse povo. Se alguém souber me conta. Houve uma ruptura muito grande entre as duas gerações anteriores e essa. Falhamos ao esculachar os moleques dizendo que não conheciam o primeiro disco do Black Sabbath, que bom era o Chico Science, que System Of Down não era metal, que hoje tudo é merda. Enfim… depois falo mais sobre isso.

Mas voltando, a ideia da coluna é esta: contar os causos do meu passado ligado aos principais points e personagens do underground Rio e Baixada (porque todas as gerações precisam saber dos xóvens malucos que vieram antes e abriram caminho); mas manter os pés firmes nesse agora que fervilha com bandas fodas que a gente precisa ouvir, gente bonita que a gente precisa encontrar, points e iniciativas fodas pra manter o underground vivo e claro, como não poderia deixar de ser com um monte de espertalhão sonhando em ser Medina e bandas que acham que cena se faz com um umbigo só. Normal.

Puuutz! E pensar que lá se vão 21 anos que o Marcelo Joplin lá do Jardim Leal em Dallas City disse ao me ouvir reclamar: “esquenta, não… daqui a pouco você tá aí cascudona, cheia de história pra contar…”!!

Tamo aí mandando brasa!   😀

Diário Underground, histórias do underground do Rio e Baixada Fluminense, todas as quartas após ás 18h, aqui no blog da Oficina do Demo.

Beijinhos paçoquísticos.

Ouça bandas independentes.  Vá aos shows.  Curta e compartilhe material das bandas na internet.

 

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Who’s that girl?

Paçoca Psicodélica, vulgo Yasmin Ramyrez. Cigana-hippie-punk, libriana, filha de Oyá, feminista com ascendente em tretas, mãe de adolescente. Educadora, escrivinhadeira, missionária do coletor na Copinho da Revolução, no underground desde 1996, aprendiz de cartomante, ex-doula, produtora do Festival Hippie Punk Beatnik, vocalista da Ramyrez 77, podcaster no Bora Marcar?, fábrica de ideias.