NO TALO #11

NO TALO #11

21 de junho de 2018 1342 Por Eddie Asheton

PESO E BELEZA POR TRÁS DA CORTINA DE FERRO

Modrý Efekt – Modrý Efekt & Radim Hladik (1975)

O dia 7 de dezembro foi um dia de luto para adoradores de rock progressivo de todo o mundo. Morria aos 69 anos Greg Lake, baixista e a grande voz do Emerson, Lake & Palmer.3 dias antes, na distante República Checa, também aos 69 anos, morria um de seus músicos mais famosos e importantes: Radim Hladik, guitarrista e o cérebro  por trás do Blue Effect / Modrý Efekt  M. Efekt. Apesar de toda a sua técnica e da obra maravilhosa que deixou para a posteridade, a comoção com a sua morte certamente foi infinitamente menor que aquela causada pela morte de seu colega inglês. Menor aqui, ou na Inglaterra. Mas provavelmente não no seu país.

Radim já era reverenciado como um grande guitarrista antes mesmo de montar a banda que é assunto desta matéria. Começou a chamar a atenção quando tocava com os Matadors, bandaça que lançou um único álbum em 1968. Logo em seguida ele formou o Blue Effect, que tinha boa parte das suas músicas em inglês, assim como o nome da banda. Por que ressalto aqui a questão do idioma? Porque diz a lenda que um dos motivos para a saída do primeiro vocalista da banda (Vladimir Misik) logo após o lançamento do seu disco de estréia, o excelente “Meditace”, de 1970, foi que o vocalista queria gravar e cantar mais músicas em inglês. O restante da banda, porém, queria gravar e lançar material na sua língua materna. Alguns anos depois Vladimir formou a banda Etc…, com a qual está até hoje. Recomendo bastante uma checada no seu segundo disco, “They cut off the little boy’s hair”, de 1978.

Sem vocalista, ainda no ano de 1970 o trio remanescente gravou e lançou o escandaloso “Coniunctio”. É um disco bem sui generis: um cruzamento perfeito do que Miles Davis e o Soft Machine faziam nessa virada de década. Como diz o seu nome, o disco foi gravado em conjunto com uma outra banda, no caso o Jazz Q Praha. Foi o último disco antes da banda traduzir o seu nome para o tcheco e se transformar no Modrý Efekt. Os primeiros discos lançados com o novo nome foram a série “Nová Syntéza” 1 e 2. Nesses dois discos a veia experimental da banda continua afiada, e fazem uma mistura muito interessante de música clássica, jazz e rock, que na capa do primeiro disco aparece como beat, termo muito em voga então em todo o mundo. O disco seguinte seria aquele que é o assunto principal desta matéria.

“Modrý Efekt & Radim Hladik” já começa a chamar a atenção pelo nome, com o destaque que é dado ao guitarrista. Ao ouvir o disco esse destaque começa a fazer algum sentido. Não que os outros três músicos  sirvam apenas de acompanhamento e cama para as acrobacias guitarrísticas. Muito longe disso! Todo mundo toca pra cacete o disco inteiro, mas dá pra se perceber que a guitarra de Radim Hladik é o elemento que costura tudo. A impressão que dá é que aqui a banda usou os elementos de seus 3 discos anteriores, mais experimentais, e os reorganizou de uma forma mais coesa.

O resultado final é lindo! Cinco números instrumentais que valem por cinco estórias completas. E que estórias! A segunda delas, “Cajovna”, tem uma daquelas melodias que basta ouvir uma única vez pra nunca mais ela sair da sua cabeça. E ela foi marcante não só para quem a ouviu como também para os músicos da banda. Tanto que se tornou obrigatória nos shows da banda a partir daí, além de ter sido regravada e lançada como compacto em 1987. Ficou legal, mas a versão original deste disco dá de dez a zero. Também merecem destaque “Boty”, que abre muito bem o disco com suas mil e uma mudanças de tempo e de melodia, e “Hypertenze”, a prova de que Radim e sua turma ouviram muito King Crimson e conseguiram encerrar o disco com o mesmo nível de peso, pompa e circunstância!

E não acabam por aqui as curiosidades da trajetória da banda. Os três discos de estúdio seguintes da banda saíram com um terceiro nome: M.Efekt. Após seu último disco, “33”, de 1981, a banda lançou poucos compactos até que em 1990 encerrou temporariamente suas atividades. Em 2004 a banda voltou com seu nome original, Blue Effect, mas apenas com Radim Hladik das formações anteriores, já que Vlado Cech – que tocou bateria em todos os álbuns da banda – morreu em 1986, com apenas 36 anos. Durante os 12 anos dessa segunda encarnação do Blue Effect não foi lançado nenhum álbum de estúdio. Sinal de respeito ao legado perfeito da banda em seus primeiros anos? Grandes chances. Quem dera o Deep Purple tivesse pensado dessa forma antes de lançar o “Bananas”, ou o Black Sabbath com o “Forbidden”…

Ouça o disco,  assista ao documentário. Sim! Estou falando de “The road that leads to Nowhere”, que em quase 60 minutos faz um panorama muito interessante do cenário musical da Tchecoslováquia em 1968. Claro, não dá pra entender uma vírgula do que o povo fala, mas a maior parte do tempo é das bandas tocando, Não precisam se preocupar. Vejam e sejam felizes!