NO TALO #12

NO TALO #12

28 de junho de 2018 277 Por Eddie Asheton

BORBOLETAS DE FERRO NA ANATÓLIA

Bunalim – Bunalim (2006)

 

Ao longo da história do nosso querido rock’n’roll tem uma boa quantidade de bandas sensacionais que nunca chegaram à marca do LP, limitando-se, quando muito, ao lançamento de alguns compactos. Uma dessas bandas é o Bunalim, já citados quando falamos sobre o Anadolu Pop da Turquia (tá por fora? Então vá correndo ler “No Talo!” 1 e 2!). Sua obra se limitou a meia dúzia de compactos lançados entre 1970 e 1972. Nesse mesmo ano a banda mudou o nome para Ter e teve uma breve associação com um dos melhores rockers de seu país, Erkin Koray. No curto período em que trabalharam juntos lançaram o compacto “Hor Görbe Garibi” / “Zuleiha”. Rock pesadão. Ouçam já!

A banda conseguiu a estranha proeza de ter uma formação diferente em cada um dos compactos. O único músico que ficou em todas as formações foi o guitarrista Aydin Çakus, na verdade um americano que foi para a Turquia ainda criança, com 4 anos de idade.

Alguma alma caridosa se deu ao trabalho de pesquisar e juntar os então raros compactos da banda em um único disco. Palmas pra ele! Alguma coisa pra reclamar dessa coletânea? Sim, o fato de as músicas não estarem na ordem cronológica, mas estão dispostas em uma outra ordem, de forma que quem vá ouvir possa acha-la… agradável?  Provavelmente era esse o intuito, mas com essas doze músicas não tem como errar. Qualquer ordem fica uma maravilha! E pros fãs de música que além de ouvir adoram esmiuçar, saber dos detalhes, seria melhor ainda poder simplesmente botar o disco e ouvi-las na mesma ordem que foram lançadas ali na virada dos anos 60 pros anos 70. Mas, tudo bem. Isso é um detalhe menor. Além do que, a beleza da capa compensa qualquer falta de ordem das faixas. É uma foto linda , com o trio (a formação inicial do Bunalim) tocando em uma paisagem desértica. Parentes bem distantes do Stoner Rock californiano? Quem sabe…?

Rabugens à parte, vamos falar rapidamente de cada um dos compactos, na ordem correta:

 

“Tas Var Köpek Yok” / “Yeter Artik Kadin” (1970): Compacto de estréia e, como seria de se esperar, as duas músicas mais pesadas e cruas de toda a coletânea. Único registro da banda como power trio, com Aydin assumindo os vocais, além da guitarra. A banda é completa por Ahmet Güvenç no baixo e Hüseyin Sultanoglu na bateria. Cozinha dos infernos! O lado B na verdade é uma versão em turco de “Get out of my life, Woman”, do primeiro disco do Iron Butterfly. Só que a versão do power trio turco é bem mais pesada… e gritada!

 

“Yollar” / “Hele Hele Gel” (1971): com vocalista e baterista novos, este segundo compacto ainda traz um rock bem interessante, mas realmente é notável a aproximação maior da banda com um som mais turco. Com certeza os vocais mais suaves de Aziz Azmet e a bateria mais “certinha” de Nihat Örerel ajudam muito para causar essa impressão. É um disco menos selvagem e mais melódico. Estratégia de marketing? Não sei, mas ainda asism é um ótimo disco! Nota nove!

 

“Basak Saçlim” / “Bunalim” (1971): Sem um vocalista e com Berç Yenal na segunda guitarra, além de Melik Yirmbir assumindo o baixo e Nur Yenal a bateria, dessa vez a banda (totalmente reformulada, como deu pra percebr) lança seu único disco totalmente instrumental. Segundo uma entrevista que Aydin deu vários anos depois, o lado A do disco era pra ser cantado, mas por algum motivo na hora de gravar ele não conseguia cantar a letra. Então resolveram gravá-la como instrumental mesmo, e chamaram um músico para tocar saz (uma espécie de  parente turco da cítara) na spartes que teriam vocais. E o lado B tem a música do mesmo nome da banda. Uma bela instrumental com pinta de trilha sonora de filme, e que traduz em sons o significado do nome da banda, que me português é “depressão” ou “frustração”.

 

“Bir Dunya da Bana Ver” / “Ask Senin Bildigin Gibi Degil” (1972): Não se deixem enganar pela ruidosa introdução do lado A, O que vem em seguida não é um rockão pauleira, mas sim o Bunalim adentrando mais a fundo da mistura de rock and roll com a música tradicional turca. O lado B também tem uma bela introdução pesada! A formação desse disco é quase a mesma do anterior, apenas com a inclusão de um novo vocalista, Fikri Takbak.

 

“Kinali Gelin” / “Güzel” e “Bir Yar Için” / “Ayrilink Olmasaydi” (ambos de 1972): Em seus dois últimos compactos o Bunalim abraça de vez uma sonoridade mais turca. Os dois discos têm a mesma formação básica (agora com Cengiz Teoman na bateria e Rifat Öncel nos vocais), sendo que o último disco tem mais uns três músicos adicionais. Apesar de tudo é bem bom, e mantém um bom nível de qualidade.

 

E que fim levou o Aydin? Bom, uns 2 anos depois do fim do Bunalim ele voltou pra sua terra natal, os Estados Unidos. E continua tocando lá até hoje.