NO TALO #3

NO TALO #3

26 de abril de 2018 725 Por Eddie Asheton

UMA BANDA MADE IN BRAZIL, SÓ PRA TOCAR ROCK’N’ROLL

Made in Brazil – Made in Brazil (1974)

 

Made in Brazil - (1974) Made in Brazil

 

E eis que ano passado o Made in Brazil, uma das bandas mais importantes do nosso rock’n’roll, completou meio século de atividade! Tanto tempo de estrada e tão pouca badalação por parte da grande mídia. Isso eu posso falar por experiência própria , pois sou fã da banda há mais de dez anos e de lá pra cá nunca soube de nenhum show deles aqui no Rio de Janeiro. E olha que São Paulo, a terra deles, é ali do lado. Se este fosse um mundo (e principalmente um Brasil) mais justo certamente o Made teria um grande apelo popular e estaria tocando nos Faustões da vida… pensando bem, essa não é uma situação muito atraente.

 

Como já foi dito, a banda começou em 1967, mas só 7 anos depois eles lançaram o famoso disco da banana, seu álbum de estréia. 1974, por sinal, foi um ano marcado por grandes estréias do rock brasileiro: Joelho de Porco, Moto Perpétuo, Som nosso de Cada dia, Casa das Máquinas… a maior parte dos primeiros sete anos da carreira do Made foi dedicada aos então famosos bailinhos, onde as bandas normalmente tocavam só ou quase que só covers e versões. Mas mesmo nesse estágio inicial, e apesar da pouca idade, a garotada do Made já conseguia se sobressair num oceano de versões fajutas dos Beatles. Já que era pra tocar cover, que fosse pelo menos algo com mais peso. E dá-lhe Led Zeppelin, Deep Purple…e até Blue Cheer! E não era só com o seu som que eles se destacavam, mas também com o seu visual. Foram a primeira banda brasileira a usar maquiagem mais pesada no palco, ainda no final dos anos 60. Ou seja, alguns anos antes do próprio Secos & Molhados. Que por sua vez, dizem as más línguas, influenciou o Kiss a pintar as caras.

O estágio inicial nos bailinhos foi essencial pra banda, pois quando chegou a hora de entrar no estúdio já tinham criado uma casca, e estavam mais do que prontos pra arrebentar. E é isso que se ouve desde as primeiras notas da guitarra de Celso Vecchione em “Anjo da Guarda”: uma banda que sabe muito bem onde tá pisando. Celso, aliás, é o irmão mais novo do baixista Oswaldo Vecchione, que tem tocado a banda pra frente ao longo de todos esses anos e é o único que nunca saiu da banda, que inclusive quase entrou no Guinness devido à quantidade de formações, mas isso é outra estória.

Maden in Brazil abril 1973

Quem também merece destaque é o vocalista Cornelius Lucifer, com vocais e visual tão chamativos quanto sua peculiar alcunha, e o baterista, na época com apenas 21 anos, Rolando Castello Júnior. Rolando por si só é um importantíssimo capítulo do nosso rock’n’roll, pois depois de tocar aqui no disco de estréia do Made seguiu uma bela carreira (que já havia começado antes, incluindo bandas até do México!) com o Patrulha do Espaço, que ainda tá na estrada, e várias outras bandas. Um dos pontos altos, na minha opinião, foi o disco Aeroblus, disco homônimo de um super power trio argentino formado pelo grande Alejandro Medina no baixo e Pappo, a grande lenda argentina da guitarra pesada. O tecladista Onisvaldo Scavazzinni e o percussionista Ricardo Fenilli também não devem nada ao restante da banda, o que faz desse disco uma verdadeira aula de Rock’n’roll.

Para mostrar que os covers e versões não eram só coisa do começo de carreira, o disco inclui uma inusitada versão de “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, cuja única semelhança com a original é a letra. Seria essa versão uma sutil alfinetada no ufanismo infame do “Milagre Brasileiro”, com suas palavras de ordem como “Brasil, ame-o ou deixe-o”? Aliás, nessa época e nos anos seguintes o Made teve vários problemas com a Censura, chegando ao ponto de ter o que seria o seu terceiro disco, “Massacre”, proibido de ser lançado. Regravaram algumas de suas músicas, pegaram mais umas tantas e lançaram o igualmente genial “Paulicéia Desvairada” no seu lugar.

Voltando ao disco da banana, ele segue com uma trilha de clássicos do nosso rock “pauleira”, como a quase Sabbathica “Doce”, “A Mina” e a deliciosamente desenfreada “Menina Pare de Gritar”, que inclusive teve clipe no Fantástico. Numa época em que a MTV não sonhava em nascer nem nos Estados Unidos isso era bastante coisa. Pra mostrar que nem tudo no Made era só peso e gritaria o disco fecha com “Uma Longa Caminhada”. Uma lindíssima balada, mas ao mesmo tempo soturna, principalmente no seu refrão: “A morte não tarda / Você também vai morrer”.

Parafraseando o mestre Oswaldo Vecchione: Hey, você aí, parado, congelado, mexa-se e ouça esse e os outros discos da banda, um melhor que o outro! Dá um pulinho aqui e faça parte dessa festa que não tem dia nem hora pra acabar. E tomara que não acabe tão cedo mesmo!

In Memorian Cornelius Lucifer e Percy Weiss

 

https://www.youtube.com/watch?v=acdhkrdvEZU