NO TALO #7

NO TALO #7

24 de maio de 2018 228 Por Eddie Asheton

DOORS SEM O JIM MORRISON É MARMELADA?

 

https://www.youtube.com/watch?v=yCgefBzbP2A

The Doors. Banda californiana formada em 1965. Lançou 6 álbuns de estúdio e encerrou suas atividades em 1971, com a morte de Jim Morrison, seu vocalista. Procede? Não é bem assim…

Antes do lançamento de L.A. Woman, sexto disco de estúdio da banda, Jim Morrison resolveu se mudar pra Paris pra brincar de poeta maldito. Mas Ray Manzarek, Robbie Krieger e John Densmore não pararam de ensaiar e compor novas músicas. O futuro era incerto e o fim estava sempre ali por perto. Morrison poderia voltar para os Estados Unidos a qualquer momento… ou não. O que aconteceu todo mundo já sabe. Jim foi encontrado morto em Paris por sua esposa Pam, ou pelo menos é o que se supõe, já que a coisa nunca ficou totalmente esclarecida.

Mas vamos deixar de lado as teorias da conspiração. Mais importante é dizer que sim, os outros três Doors ficaram abalados com a morte de seu companheiro vocalista, mas optaram por seguir em frente e lançaram mais dois discos: Other Voices, lançado nesse mesmo ano de 1971, e Full Circle, de 1972. E posso dizer uma coisa? São dois discos muito bons. Não dá pra se dizer que é o que a banda fez de melhor, mas com certeza merecem ser ouvidos. Dica de amigo: dia desses eu vi nas Lojas Americanas uma edição 2 em 1 com esses dois discos, e estava a um preço camarada. A edição é caprichada? O encarte é bonitinho? Eu sei lá. Dei sorte de há alguns anos encontrar esses dois discos em vinil a preço de banana. E digo mais: edições nacionais. Ou seja: mesmo sem Jim Morrison os dois discos foram lançados por aqui na época.

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Other Voices já dá o seu recado antes mesmo de você botar o disco pra tocar. A capa e a contracapa trazem apenas os três músicos remanescentes em fotos simples, em preto e branco. As outras vozes que dão nome ao disco são as de Ray Manzarek e de Robbie Krieger. Não deve ter sido fácil pra nenhum dos dois ter que, de certa forma, substituir o vozeirão do Rei Lagarto. Mas até que se saem bem, especialmente Ray, que já havia dado uma pequena demonstração de seus dotes vocais na música Close to You, presente em Absolutely Live, do ano anterior.

Musicalmente o que encontramos aqui é um som mais leve, relaxado, mas muito interessante. Muito Boogie, swing e até mesmo toques latinos . Pode causar um estranhamento inicial, pra quem espera uma nova Light my Fire ou uma Roadhouse Blues. O trio toca de forma brilhante, como sempre, e dessa vez estão acompanhados por vários músicos de estúdio. 5 baixista e 2 percussionistas, pra ser mais exato. A banda produziu o disco junto com Bruce Botnick, que também produziu os discos anteriores da banda. Ou seja, as coisas haviam mudando, mas nem tanto. Curiosidade: a contracapa da edição nacional da época traz o selo da Stax, famosa gravadora americana de música Soul.

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No ano seguinte, 1972, a banda lança Full Circle. E aqui se fecha o ciclo. E de fato a banda não gravou mais nenhum disco de inéditas nas décadas seguintes. Isso se você não levar em conta An American Prayer, em que a banda fez um fundo musical para um antiga gravação de Jim Morrison declamando o seu longo poema de mesmo nome. Não é um fundinho musical qualquer, mas talvez seja um exagero chamar de disco de músicas inéditas. E hoje em dia, com apenas Robbie Krieger e John Densmore vivos é pouco provável que a banda faça alguma reunião, quanto mais gravar um disco novo.

Mas chega de andar em círculos (sem trocadilhos) e vamos ao que interessa. Esse segundo disco sem Jim Morrison traz uma banda mais à vontade, ousando mais nas composições e nas execuções. É um disco mais pra cima. Dá a impressão de que eles sabiam que seria o seu último disco de estúdio juntos, então se esforçaram pra fechar sua bela carreira com chave de ouro. O que temos aqui são 3 músicos tocando apenas por diversão, sem ter que provar nada pra ninguém. Talvez o auge dessa diversão seja a músca que abre o segundo lado do disco, The Mosquito, com suas mudanças súbitas de arranjo e com uma letra que se resume à seguinte pérola cantada por Robbie Krieger:

 

No me moleste, mosquito

No me moleste, mosquito

No me moleste, mosquito

Why don’t you go home?

No me moleste, mosquito

Let me eat my burrito.

No me moleste, mosquito

Why don’t yoy go home?

 

Seria a penúltima música do disco, It Slipped My Mind, a irmã mais nova de Love Me Two Times? Provavelmente sim. Mais um blues rock fácil de se ouvir e gostar, isso é certo. E é nesse clima de festa que o disco termina, com a animada The Peking King and the New York Queen.

Dizem que logo após a morte do Jim Morrison foi cogitada a entrada de Iggy Pop, acreditem se quiserem, no seu lugar. Os Stooges estavam num momento de marasmo pouco após o lançamento de seu segundo disco, Funhouse . The Doors com Iggy Pop? Hmmm… será que isso daria certo? É provável que os outros três não teriam paciência pra mais um vocalista problemático e imprevisível. Além do mais a história já provou que Iggy Pop só funcionava era com os dois irmãos Asheton mesmo. Tanto que o último disco de estúdio dos Stooges, Ready to Die, de 2013, nem é digno de nota. A essa altura Iggy já havia se tornado a Dercy Gonçalves do proto punk, e tudo o que era arriscado e chocante até o começo dos anos 70 já havia virado Cirque de Soleil. Como o momento combinado do show em que o púbico sobe no palco, algo digno de um Iron Maiden da pior fase.

E pra fechar, respondendo à pergunta lá de cima. É claro que Doors sem o Jim Morrison não é marmelada. É diferente, não tem aquela tensão que tanto nos atrai, mas mesmo assim é rock dos bons, em alguns momentos beirando um Flaming Groovies. A audição desses dois discos não vai ser tempo de vida perdido.