Quando tudo começou a desmoronar

Quando tudo começou a desmoronar

20 de abril de 2018 542 Por Autor quase desconhecido

Crônicas do Demo #2

Era tarde, o dia havia sido agitado, atribulado, a idade já não ajudava… estava cansado, suado, irritado, precisando de um banho. Em resumo, era um daqueles dias que ficar na cama seria a escolha inteligente, mas não eram os planos do Universo.

– Senta aqui do meu lado, preciso te contar uma coisa.

– Claro, só preciso de um banho, depois sou todo ouvidos.

– Preciso te contar uma coisa, agora!

É estranho como as coisas acontecem, mas não notamos na hora, depois, olhando pra trás, tudo faz sentido.

Havíamos começado um canal no YouTube, não haviam pretensões, além de risadas e tretas, o comum do dia-a-dia. De início, foi tudo meio conturbado, mas enfim, havíamos focado em falar sobre o novo rock and roll brasileiro, e as coisas caminhavam de forma empolgada.

As gravações eram enérgicas, imensas, cansativas… exigiam demais de nossa pequena equipe, agora formada por 4 pessoas, uma produtora, dois apresentadores, uma maquiadora.

Apesar de toda a confusão no estúdio improvisado com luminárias de escritório turbinadas, rebatedores feitos de cartolina e uma câmera superzoom, a produtora dormia tranquilamente, como se nada no Universo pudesse lhe perturbar a paz.

Leia a primeira Crônica do Demo.

Notei, naquele ponto que discutir seria mais cansativo do que apenas me sentar e ouvir o que ela tinha a dizer, mas ela não disse, apenas apontou a tela do notebook.

Não, não era um detalhe de produção da Oficina do Demo, como eu esperava, mas o site de um laboratório e um PDF aberto escrito Beta HCG.

ensaio pre born cerutti diass ceruttidiass fotografia gravidez

Ensaio pre-born Rafa-El Cerutti

Em algum lugar discreto da página, tinha um “POSITIVO”, e de algum lugar do meu Universo, as lágrimas brotaram… elas ainda rolam, mesmo hoje, mesmo depois de tanto tempo passado.

Precisávamos nos preparar, afinal, o projeto não gerava grana, mas nunca se deve deixar de observar que as mulheres precisam, fisica e espiritualmente, da licença maternidade.

Iniciamos uma maratona de gravações, reuniões, brainstorms, pesquisas e mais gravações. Precisávamos de, pelo menos 3 meses de episódios gravados e editados, antes do novo membro chegar a esta dimensão.

Madrugadas em claro, escrevendo, pesquisando, gravando, até que o set ouviu pela última vez ” Cabecinhas Vazias, até a próxima! “. Um misto de alívio, dever cumprido e saudades já pairavam, todos prontos para a última reunião dos próximos meses.

– Caras, estou indo embora, o Rio de Janeiro não é mais um lar pra mim.

Foi ali, hoje eu entendo, aquele foi o momento quando tudo começou a desmoronar.